26.10.04

COCKTAIL DO DIA:LONG ISLAND ICE TEA


Eis um cocktail que definitivamente não é para qualquer um. A sua combinação de quatro espíritos de base testa a resistência e a sensatez do apreciador. Foi criado na segunda metade dos anos 70 por um bartender de Long Island, Robert C. "Rosebud" Butt.Muito apreciado nas festas de repúblicas universitárias americanas - devido ao rápido efeito de embriaguez - é no entanto um cocktail que deve ser consumido com moderação para melhor apreciá-lo. É essencial que os ingredientes sejam da melhor qualidade. Mais uma vez as medidas estão em termos leigos (ou não, para quem tenha colheres de medida)

1 colher de gin (Beefeater, por exemplo)
1 colher de rum (Havana Club novo.Nunca Bacardi)
1 colher de tequila (Sauza, por exemplo)
1 colher de vodka (nunca vodka perfumado, género Absolut.A versão normal de Moskovskaya é correcta)
1 colher de Triple Sec
Sumo de limão (recomendo duas colheres; pode ser menos)
Uma colher de açúcar
Coca-cola gelada
Rodela de limão

Num shaker cheio de gelo, deite e agite os primeiros sete ingredientes.Escorra para um copo Collins (ou "copo alto", estreito)préviamente gelado e com gelo.Devagar deite depois a coca-cola, mexendo suavemente.Enfeite com a rodela de limão.

23.10.04

CANÇÕES DO RITZ: NIGHT AND DAY

Há quarenta anos atrás - mais exactamente no dia 15 de Outubro de 1964 - desaparecia aquele que é, provavelmente, o melhor autor de canções de sempre:Cole Albert Porter.Oriundo de famílias abastadas, Porter pôde dar-se ao luxo de escapar das angústias do quotidiano que atormentavam muitos dos seus colegas compositores. O seu casamento com Linda Darnell - riquíssima herdeira e socialite - levou-o ainda mais a habitar uma torre de marfim feita de sofisticação, riqueza,cultura e excelentes cocktails. Tudo isto se reflecte nas suas canções, pérolas de wit e prodígios de rimas. Porter era intenso admirador de Robert Browning, poeta inglês famoso pelo cuidado da forma poética. E é assim que surgem as fantásticas rimas internas, os aforismos em verso, e tudo acompanhado por uma melodia muitas vezes genial que o próprio compunha. Cole Porter é hóspede permanente do Ritz, pelo que aqui voltará a ser falado. Hoje, recorde-de uma das suas grandes canções: Night And Day. Apresentada pela primeira vez no filme Gay Divorce, de 1932,e cantada por Fred Astaire , Night And Day é um diamante.Uma canção cuja melodia é luminosa e geométrica, com uma transição perfeita do A para o B, em que o tom e o acorde se prolongam de um para o outro. A lenda diz que Porter terá apanhado a melodia durante uma sua estada em Marrocos com a Legião Estrangeira, mas desconfie-se destas histórias de dinner parties.
Night And Day só aparentemente é uma canção de amor inocente; o que aqui se trata é de obsessão, pura e dura. O desejo de o amante de possuir, no sentido metafísico, o ser amado. Tem um lado claustrofóbico, bem assinalado no verse (introdução), em que se sublinha a repetição ("Like the beat beat beat of the tom tom")e o lado quase psicopata da relação. As melhores canções de Porter têm esta ambiguidade, um rio escuro e subterrâneo por baixo das aparências - provavelmente pela própria sexualidade do autor, que era elegantemente consentida mas nunca assumida. Vejamos então:

verse
Like the beat beat beat of the tom-tom
When the jungle shadows fall
Like the tick tick tock of the stately clock
As it stands against the wall
Like the drip drip drip of the raindrops
When the summer shower is through
So a voice within me keeps repeating you, you, you

chorus
Night and day, you are the one
Only you beneath the moon or under the sun
Whether near to me, or far
It's no matter darling where you are
I think of you
Day and night.
Night and day, why is it so
That this longing for you follows wherever I go
In the roaring traffic's boom
In the silence of my lonely room
I think of you
Day and night.

(bridge)
Night and day
Under the hide of me
(e aqui uma genial quase aliteração de em crescendo:fome, ânsia, queimar)
There's an oh such a hungry yearning burning inside of me
(e para que se veja que a coisa é mesmo séria, o amante fala de tormento)
And this torment won't be through
Until you let me spend my life making love to you
Day and night, night and day


Simplesmente perfeito. As versões que o Ritz aconselha são as de Ella Fitzgerald (The Cole Porter Songbook), Fred Astaire com Oscar Peterson (The Astaire Story, Verve)e, claro, Sinatra: a versão jazzy com o combo de Red Norvo em Live In Australia é uma aula prática da arte Sinatriana de possuir uma canção, com alterações de versos, arranques antes e depois do tempo, acentuações brilhantes em sílabas inesperadas.

18.10.04

COMUNICADO DA GERÊNCIA

A gerência do Ritz vem por este modo agradecer aos seus clientes as visitas e comentários feitos. Entretanto, no bar chovem pedidos para gin rickeys, Long Island Ice Teas, Dry Martinis,Bloody Marys, Sidecars, Harvey Wallbangers e outras delícias. A seu tempo serão atendidos, sempre com uma palavra amiga. O nosso chefe de bar é um homem feliz.

12.10.04

COCKTAIL DO DIA:OLD-FASHIONED



É um dos mais clássicos cocktails que se conhece;e por isso mesmo, as variantes da sua receita são inúmeras, sempre na saudável utopia de alcançar a liquída pedra filosofal.Foi criado no final do século XIX por um barman do super-selecto Pendennis Club,em Kentucky. Há quem o beba com bourbon - a versão mais consagrada - ou Rye Whiskey.Outros substituem o cubo de açucar por xarope de acúcar (que um dia ensinaremos aqui a fazer), mas esta variante não é recomendada a diabéticos. A versão pessoal do bar do Ritz utiliza sempre um triplo destilado como espírito principal: o whiskey irlandês novo, como Jameson ou Bushmills servem perfeitamente. Para uma bebida ainda mais suave, recomenda-se Tullamore Dew.O cocktail deve ser obrigatóriamente servido num copo homónimo: o old-fashioned (ou "copo baixo"- ver ilustração).As medidas estão "traduzidas" para iniciados.

OLD-FASHIONED

Um cubo de açúcar
Um oitavo de colher de chá de Angostura Bitter
Uma colher de chá de água
Um quarto de chávena de whiskey irlandês (que pode ir à meia chávena,se pretender um maior grau alcoólico)
Uma finissima casca de limão (lemon twist)
Meia rodela de laranja
cereja maraschino (opcional)

Coloque os três primeiros ingredientes no copo préviamente gelado. Moa até o açucar se dissolver.Encha o copo com gelo.Acrescente o whiskey e o limão.Enfeite com a rodela de laranja (ou a cereja).

ESTA NOITE, NO RITZ LOUNGE:JUNE CHRISTY



A voz de veludo e fumo de June Christy não deixa ninguém indiferente. Começou como cantora da big band de Stan Kenton, mas foi nos anos 50 que ganhou popularidade, sobretudo pelas torch songs, que arranjadas pelo marido Bob Cooper fizeram dela uma estrela. Não sendo uma intérprete virtuosa- e muitos a consideraram "fria", muito por estar ligada supostamente à estética cool da West Coast - , a "Misty Miss Christy", como era chamada, é uma das vozes ideais para finais de noite em frente ao bar a pensar na rapariga ou rapaz que se foi embora.
Para os iniciados, recomenda-se o excelente "Something Cool"(Capitol, 1953). Para mais informações, veja-se este site de fã, com muitos links. Bom espectáculo.

11.10.04

BEM VINDO AO RITZ



É com muito prazer que o Ritz abre as suas portas. No nosso salão de baile, a orquestra prepara-se para atacar mais uma versão de You're The Top, de Cole Porter. A outra banda sonora é feita de tafetás, lantejoulas, jóias e sapatos de verniz. O nosso chefe de barmen está pronto a ouvi-lo enquanto partilha consigo as suas receitas milagrosas.
O RITZ é um blogue desavergonhadamente escapista e snob. Aqui apenas se falará da arte perdida de viver e das canções e bebidas que fazem parte dela. Para sugerir ou comentar, faça o favor de se dirigir à recepção aqui em baixo ou ao mail major_scobie@hotmail.com.
O gerente do RITZ é Nuno Miguel Guedes, Esq. No fundo, um superficial.
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